Trump anuncia tarifa global entre 15% e 20%, mas mantém taxa de 50% para o Brasil

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Republicano defende acordo com China e mantém postura rígida com países que não firmarem tratados comerciais com Washington; governo brasileiro critica falta de diálogo

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (28) que pretende aplicar uma tarifa global entre 15% e 20% para países que não firmarem acordos comerciais com seu governo. A declaração foi dada durante entrevista coletiva em Washington, reforçando a nova diretriz protecionista da gestão republicana. No entanto, o Brasil segue sendo exceção: permanece sob uma tarifa de 50% — mais que o dobro da média anunciada.

A medida, que entra em vigor no próximo dia 1º de agosto, foi classificada por autoridades brasileiras como “desproporcional” e “injustificada”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou abertamente a falta de diálogo por parte de Trump e afirmou que o Brasil está aberto à negociação, mas não aceitará imposições unilaterais.

“O Brasil tem tradição de diálogo comercial e está disponível para discutir termos justos. Mas não se submeterá a tarifas abusivas por falta de alinhamento ideológico ou geopolítico”, disse Lula em entrevista recente.

China em foco: “adoraria ver os mercados chineses abertos”

Durante a mesma coletiva, Trump também comentou o andamento das negociações com a China. O republicano disse “adorar a ideia” de ver os mercados chineses abertos aos produtos norte-americanos, em referência à retomada do diálogo entre os dois países em Estocolmo, na Suécia.

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As reuniões visam estender por mais três meses a trégua tarifária firmada anteriormente entre Washington e Pequim. Segundo Trump, os EUA já fecharam acordos semelhantes com Indonésia, Filipinas, Vietnã, Japão, Reino Unido e, mais recentemente, com a União Europeia — o último prevê tarifa de 15% e investimentos bilionários no território americano.

“Fizemos acordos históricos, e estamos perto de um com a China. Já temos algo preliminar, mas vamos ver como se desenrola. Eles sabem o que queremos”, declarou o presidente.

Brasil fora do jogo

Enquanto outros países conseguem avançar nas tratativas, o Brasil parece ter sido deixado de lado. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmou que tenta contato com o governo americano desde o anúncio da tarifa de 50%, mas ainda não obteve retorno formal.

Em nota, o ministério informou:

“O governo brasileiro reitera sua disposição ao diálogo, com base no respeito mútuo e nos princípios da soberania e da legalidade. No entanto, não aceitará imposições unilaterais que prejudiquem setores produtivos nacionais.”

Segundo especialistas, a relação comercial entre Brasil e Estados Unidos tem enfrentado entraves desde o retorno de Lula ao poder, com desgaste causado por fatores políticos e geopolíticos. Para Alberto Pfeifer, coordenador do Grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP, a postura de Trump é clara:

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“O Brasil está sendo punido mais por razões políticas do que comerciais. Trump não vê o Brasil como parceiro prioritário, sobretudo enquanto há disputas abertas pela influência da China na América do Sul.”

Ainda segundo Pfeifer, o interesse dos EUA nas reservas brasileiras de terras raras também pode estar influenciando a pressão tarifária. “Há uma disputa estratégica em andamento, e o comércio acaba sendo usado como ferramenta”, afirma.

Caminho indefinido

Enquanto outros países conseguem negociar reduções tarifárias e acordos bilaterais, o Brasil enfrenta o risco de isolamento em áreas estratégicas de exportação, como agricultura, minérios e energia.

A tarifa de 50% deve afetar diretamente produtos como carne, soja, aço e calçados — itens que compõem boa parte da pauta exportadora brasileira para os Estados Unidos.

Diante do impasse, o Itamaraty avalia levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), mas ainda espera uma abertura de diálogo direto com Washington.

“Queremos evitar uma escalada. Ainda acreditamos que o caminho da diplomacia pode prevalecer, mas, se necessário, o Brasil saberá se defender nos foros internacionais”, afirmou um diplomata brasileiro sob condição de anonimato.

Fonte: G1

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