Quem é Paulo Bilynskyj, deputado que pode ser demitido da polícia

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Deputado federal Delegado Paulo Bilynskyj (PL) é alvo de pedido de demissão da Polícia Civil de São Paulo há pelo menos três anos

Paulo Bilynskyj (PL), 38 anos, é deputado federal por São Paulo e delegado da Polícia Civil paulista. A corporação, no entanto, espera há três anos pela expulsão do parlamentar, que é integrante da chamada bancada da bala na Câmara dos Deputados.

Histórico na polícia

Um documento sigiloso, obtido com exclusividade pelo Metrópoles, mostra que o policial civil responde a processos disciplinares desde o estágio probatório na Polícia Civil, iniciado em 2012. Naquela época, já havia recomendação para que não o aceitassem na corporação.

“[Ele] já causou diversos problemas e transtornos, inclusive, durante o estágio probatório”, diz trecho do pedido de demissão.

O documento aponta ainda que Bilynskyj respondeu a mais de 12 expedientes disciplinares, pelos quais foi punido com “reprimendas de advertência e suspensão”.

Entre 2013 e 2014, quando ainda estava no estágio probatório, o policial foi punido disciplinarmente por “demora na conclusão e encaminhamento de procedimento ao Fórum”, “elaboração de termo circunstanciado em fato atípico” e “manobra brusca na condução de viatura policial e posterior colisão em veículo particular”.

O último caso, da colisão entre os veículos, resultou no pedido de “não confirmação na carreira”, feito pela Divisão de Informações Funcionais. “Se isso tivesse sido aceito, a Instituição não teria sofrido os graves dissabores partindo deste policial.”

Atualmente, Bilynskyj responde a três processos disciplinares. Ele está sem a arma funcional e sem o distintivo policial desde outubro de 2022, período das eleições, o que não o impediu de se tornar deputado federal. O delegado foi eleito por quociente partidário, iniciando no cargo em 1º de fevereiro de 2023.

Suposta farsa

  • O delegado licenciado ainda respondeu a um processo de falsidade ideológica, que resultou em 90 dias de afastamento de suas funções, após bater uma viatura contra um carro e tentar manipular os fatos.
  • O parlamentar e quatro policiais militares foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) por terem “distorcido a realidade dos fatos” para livrar Bilynskyj da responsabilidade pelo conserto da viatura.
  • Os cinco acusados teriam providenciado a prisão em flagrante, por tráfico de drogas e tentativa de homicídio, do condutor do carro atingido pela viatura.
  • Todos acabaram inocentados, por falta de provas, em janeiro de 2016. O MPSP entrou com um recurso, reforçando a culpa dos PMs e do delegado, mas a ação não teve andamento.
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Apologia ao estupro e racismo

O caso mais destacado no pedido de demissão de Bilynskyj foi o compartilhamento em seu Instagram de uma propaganda divulgando uma escola de preparação para concursos, na qual ele dá aulas.

No conteúdo, homens negros conduzem uma mulher para um quarto, insinuando o abuso sexual da vítima. “O concurseiro estuda com material pouco profundo, sem clareza, não faz questões da banca; ou seja, sem retaguarda de conhecimento que aguente a profundidade com que a banca introduz os conteúdos e diversas posições doutrinárias! E aí…a situação fica preta!”, escreveu na postagem.

Após a publicação do conteúdo, o MPSP requisitou a instauração de um inquérito policial para investigar o caso como apologia ao estupro e racismo. A apuração resultou em processo contra o policial licenciado e dois representantes da escola de concursos, que fecharam um acordo de não persecução penal, já cumprido.

Morte de ex-namorada

Dentre as diversas polêmicas que cercam Bilynskyj, está a morte da modelo Priscilla Barros, de 27 anos, ex-namorada do deputado. Em 20 de maio de 2020, ela atirou seis vezes contra o delegado, com quem namorava havia poucos meses, e, em seguida, teria se suicidado.

A Polícia Civil concluiu, à época, que Priscilla tentou matar Bilynskyj e depois tirou a própria vida motivada por ciúmes. Com a morte da autora dos disparos, o MPSP pediu o arquivamento do caso, o que foi acatado pela Justiça em julho de 2022.

Quando foi questionado pela Justiça sobre o conteúdo de apologia ao estupro e racismo postado em seu Instagram, o parlamentar culpou Priscilla, que já estava morta na época do questionamento. Ele apresentou três versões diferentes sobre a origem da publicação, mas em todas afirmou que a modelo era quem cuidava das postagens do perfil dele.

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“Inexiste qualquer indício de que [isso] seja crível. Estranha a circunstância de nenhum depoimento ter sido colhido neste sentido. Nenhum professor, colega de profissão, familiar, amigo, aluno, ninguém sabia que Priscila Delgado era responsável pelas redes sociais do noivo?”, diz trecho do documento que solicita a demissão de Paulo Bilynskyj.

Após a “repercussão negativa” do conteúdo racista e de apologia ao estupro, a postagem foi tirada do ar. “Não tivesse ela [postagem] ecoado negativamente, por certo a teria mantido sem qualquer peso na consciência”, segue o documento, assinado pelo conselheiro relator, delegado Luís Storni.

Atualmente, Paulo é casado com a médica pediatra e vereadora de São Paulo, Carla Serrano Bilynskyj (PL).

Possível demissão

Ter se tornado parlamentar adiou a demissão de Bilynskyj da Polícia Civil. Fontes jurídicas consultadas pela reportagem explicaram que, por ter assumido um cargo legislativo, o processo de demissão do delegado segue em andamento, mas está temporariamente suspenso por “questões políticas”, uma vez que a dispensa em processos administrativos disciplinares depende da homologação do Poder Executivo.

No caso de Bilynskyj, por ser delegado, somente o governador poderia assinar o pedido feito pela Delegacia Geral. Quando a dispensa foi recomendada, em junho de 2022, o governo do estado estava sob a gestão de Rodrigo Garcia (sem partido), que não a efetivou até o fim do mandato. Agora, a decisão cabe a Tarcísio de Freitas (Republicanos).

SSP

A Corregedoria da Polícia Civil afirmou, por meio de nota encaminhada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), que, atualmente, o delegado responde a três procedimentos administrativos. Desde outubro de 2022, acrescentou, ele está sem arma funcional e distintivo.

O órgão fiscalizador ainda ressaltou o afastamento de Paulo Bilynskyj para o exercício da atividade parlamentar.

“Concluídas as apurações, os autos serão encaminhados aos órgãos competentes para a adoção das medidas cabíveis”, disse ainda a pasta, sobre os processos movidos contra o policial.

O delegado licenciado foi procurado pela reportagem, na sexta-feira (8/8), ocasião em que ele informou ter se submetido a um procedimento médico. O espaço segue aberto para manifestações.

Fonte: Milena Vogado