LONDRES – Em um artigo provocativo publicado nesta terça-feira (22), o influente jornal britânico Financial Times classificou o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como o “Imperador do Brasil”. O texto, assinado pelo editor e colunista Edward Luce, critica duramente a decisão do republicano de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e argumenta que, paradoxalmente, suas ações favorecem mais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que seu aliado ideológico Jair Bolsonaro (PL).
No artigo intitulado “Trump, Imperador do Brasil”, Luce ironiza o estilo agressivo de política comercial de Trump, chamando-o de adepto da “incontinência imperial”. Segundo o colunista, o ex-presidente norte-americano trata tarifas como instrumentos de poder pessoal. “Para ele, tarifas são algo lindo. Elas lhe dão controle sobre o acesso do mundo ao imenso mercado consumidor dos Estados Unidos”, escreveu.
A análise destaca que a retórica protecionista de Trump, somada à imprevisibilidade de suas decisões, tem deixado países aliados dos EUA, especialmente democracias, “compreensivelmente alarmadas”. Luce afirma que o ex-presidente age como promotor de autocracias e despreza os princípios do multilateralismo econômico. Ele compara a situação do Brasil com a da Turquia, que recebeu uma tarifa muito mais branda – de apenas 10% – mesmo mantendo superávit comercial com os Estados Unidos.
O artigo também sugere que, ao adotar medidas unilaterais contra o Brasil, Trump oferece munição política ao presidente Lula. “Com essa política desastrosa, Trump está empurrando o Brasil de volta ao discurso nacionalista e antiimperialista que sempre fez parte do repertório de Lula”, analisa Luce, destacando que o petista pode capitalizar politicamente ao adotar uma postura firme em defesa da soberania nacional.
Enquanto isso, o ex-presidente Bolsonaro, que tem mantido uma aliança ideológica com Trump desde o início de seu governo, se vê enfraquecido pelo gesto protecionista. O artigo sugere que a ausência de críticas públicas de Bolsonaro à medida evidencia o desconforto do ex-presidente brasileiro em condenar o seu principal aliado internacional.
A repercussão do texto reforça a percepção internacional de que a política comercial de Trump, marcada pelo unilateralismo e pela imprevisibilidade, pode gerar efeitos colaterais inclusive entre países com governos alinhados ideologicamente ao ex-presidente americano.
No Brasil, o governo Lula já indicou que poderá adotar a Lei da Reciprocidade Econômica e retaliar com tarifas equivalentes. A crise comercial entre Brasil e EUA segue se agravando a poucos dias da entrada em vigor do chamado “tarifaço”, prevista para 1º de agosto.
Fonte: BBC
